"A inteligência do poeta precisa viver num mundo mais amplo do que esse a que a sociedade traçou tão mesquinhos limites."

Eurico, o Presbítero
Alexandre Herculano

segunda-feira, setembro 13

[Escrito] A Vida de um Feliz

Vieram mais indicaçoes e agora, ao fim de mais uma etapa de enquetes apresentamos à vocês Dim_Dim, o autor, e um texto engraçadíssimo. Desejo uma boa leitura e renovo: se querem, indiquem!!

Autor: Dim_Dim

Minha vida foi longa, durou exatamente 101 anos, 11 meses, 29 dias, 16 horas, 34 minutos e 24 segundo. Anjos tem cronômetro. Tive 3 filhos, uma princesa, e uma linda mulher, tão linda, tão linda, que até hoje acho que se casou comigo por pena. Compartilhou deste mundo até eu completar 98 anos, 8 meses, 2 dias, 22 horas. 3 minutos e 2 segundos de vida; a ultima hora desta contagem foi de puro amor. Nunca vi uma Viagra tão bom quanto aquele, minha linda esposa faleceu em meus braços após dizer:

- Você vai me matar assim, seu velho! Eu te amo!

Minha vida, ah... Minha vida. Quando nasci a parteira tentou com 2 tapinhas me fazer respirar, não adiantou, estava nervosa em demasia, me deu um cascudo. Minha mãe, dona Viana, disse-me que chorei uma hora seguida, além de ganhar a marca de um punho em meu crânio.
Eu era de família pobre, muito pobre, vivia no interior do Maranhão. Meu pai, o seu Amado, era roceiro.
Na hora de assinar a certidão de nascimento, apareceu em minha vida o carma que mais durou, mais atormentou. Pensaram os ignorantes dos meus pais:

- Vamos juntar nossos nomes, mulher!

- Que romântico, por mim, tá ótimo!

Pra eles tava ótimo, e pra mim?
No que dá Viana + Amado?
Meu nome é Viado das Graças Silva. Apesar de meu pai e minha mãe terem me espancado, humilhado, chacotado, demitido, me dado fora, me reprovado, assaltado, chutado, socado, cuspido e muitas outras coisas de forma indireta, claro, só por ter me dado esse nome, eu ainda os amo.
Quando tinha 14 anos, eu era o garoto mais feio da região e também era estudioso, mais um motivo para ninguém gostar de mim. Minha cara parecia as batatas que seu Amado colhia da terra. Por muito tempo, eu fui o "Viado cara de batata", por 10 anos da minha vida fui chamado assim, e para os outros, isso nunca perdeu a graça. 10 anos sem perder a graça!
Aos 24 anos, eu estava na faculdade, já morava na capital. Foi quando conheci minha linda mulher. Já formado, trabalhando, tinha 28 anos de vida quando casei, no ano posterior nasceu o meu filho mais velho, 2 anos depois veio o outro, mais 2 anos e chegou minha filha. Quando nasceu, fizeram mais festa por ser parecida com a mãe do que pelo próprio fato de nascer. Todos falavam:

- É a cara da mãe, que linda!

Quanto aos meninos, que foram cospidos, só diziam com aquela voz de pena:

- Nossa, parece com o pai...

Não tive crise de meia idade, não tinha motivo na verdade. Eu já tinha cara de velho, já tinha "bucho" e não tinha como ficar mais feio.
Aos 50 anos, enquanto andava com minha esposa durante a noite e carregava sua bolsa, pois havia me pedido por estar com os braços cansados, vi um grupo de jovens correndo na nossa direção e dizendo:

- Solta ela!

- Devolve a bolsa dela!

- Seu vagabundo!

Minha velhice foi calma, fui atropelado 20 vezes: 2 por carro, 7 por bicicleta, 3 por moto, 4 por carro de supermercado, 1 por velocípede, 2 por patinete e 1 por carro-de-mão.
Na véspera de meu centésimo segundo aniversário, revi tudo o que contei agora, por fotos ou pela memória mesmo. Vi como fui feliz até aquele momento. Foi fluindo a vontade de sorrir, tudo que havia passado tornou-se tão engraçado, hilário. Eu ri (até onde me lembro) por uns 20 minutos, foi o melhor riso que havia praticado, era prazeroso, de perder o fôlego... Perdi o fôlego, mas não a memória, era impossível não rir de uma vida tão divertida como a minha. A vista escureceu aos poucos, fui me deitando até não escutar meu próprio riso. Nunca a expressão "morrer de rir" foi tão bem aplicada.
Minha vida foi incrível; a vida é incrível.

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Um comentário:

Chico disse...

ptz!!
muito massa
a vida é assim mesmo
trágica,dramática e muito engraçada.
Pelo menos foi o q já deu pra perceber com 24 anos de idade.rsrsrsrs
muito bom o texto
parabéns.